Hoje eu li um dos melhores artigos que já havia lido sobre treinamento em escalada. Ele pega bem no calcanhar de aquiles de quase todo mundo que eu conheço. São amigos que fazem 6° grau se fudendo horrores mas toda semana tão lá treinando no Campus do CUME. Um texto bem esclarecedor sobre a diferença entre “ser forte” e “ser bom escalador”. Amazing, parei tudo que eu estava fazendo e tive que traduzir aqui imediatamente pois realmente é tudo o que todo mundo ta precisando ver e ouvir. E fica a dica para os que estão começando! Saiu na Rock & Ice, conceituada revista americana, e foi escrito pelo Andrew Bisharat, que tem o site Evening Sends, o qual tem artigos muito bons.
Ser bom na escalada tem a ver com aprender a técnica apropriada e reforça-la para que se torne natural. A longo prazo, técnica lhe fará evoluir muito mais do que costas e antebraços fortes e uma pegada de Chimpanzé. Mesmo assim a maioria dos escaladores estão superfocados em tentar ficar mais fortes todo o tempo às custas de não aprender boa técnica.
Emily Harrington, que já escalou vários ônzimos graus tanto quando estava em boa forma quanto quando nem tanto, reconhece a relevância superlativa da técnica apropriada. Emily escala há 13 anos, tendo superado as tais 10.000 horas mínimas necessárias para que uma pessoa supostamente seja boa numa coisa. Como resultado, ela acredita que não importa em qual forma ela esteja, ela sempre vai conseguir escalar no mínimo um oitavo grau ao longo de sua vida.
Se você sabe como mexer seu corpo, você deveria conseguir escalar oitavo grau, Emily diz, não importa quão forte você seja.
Isso pode parecer surpreendente para escaladores por aí que tem no oitavo grau como o objetivus maximus em sua escalada ao longo de sua via, mas a questão não é que um oitavo grau é facil, em vez disso, que a boa técnica afinada através de muitas horas de prática dura muito mais que seu estado momentâneo (força e forma). O Problema é que é mais fácil ficar mais forte do que ficar melhor. Qualquer um pode ir pra academia e fazer um milhão de repetições ou escalar mil problemas de boulder e sentir que está o mais forte que já esteve algum dia. Treinar com o intuito de desenvolver sua técnica é muito mais cerebral, requer um certo grau de consciência sobre o que você está fazendo. Isso porque boa técnica é uma questão de sintonizar movimentos, coordenar os membros superiores e inferiores e manter a atenção no quanto de esforço você está fazendo a ponto daquilo se tornar natural. Os melhores escaladores não estão pensando no que eles tem que fazer, eles simplesmente fazem a coisa certa. Essa é a arte da escalada.
O aperfeiçoamento na técnica de alguém é muito menos tangível: mais difícil de medir ou demonstrar. Por isso também pode ser difícil chegar no lugar onde vc treina e saber como se tornar um escalador melhor. Por isso aqui vão algumas dicas que você com certeza irá achar muito úteis:
Primeiro, seja bom: Muitos escaladores iniciantes e intermediários chegaram pra mim querendo saber como ficarem mais fortes mas eu nunca ouvi nenhum deles perguntar como se tornar um bom escalador. As duas coisas estão indubitavelmente relacionadas. Mas em vez de pular para o boulder ou via mais foda que você acha que consegue fazer, preocupe-se em fazer cadenas perfeitas de vias e boulders mais fáceis. Tente ser bom antes de tentar ser forte. Quão perfeitamente você consegue escalar alguma coisa?
Pés ruins: Problemas na academia tipicamente ficam mais difíceis conforme as agarras de mão ficam piores e mais longe entre si, enquanto que aqueles pézinhos são sempre bons. Mas se você puder marcar alguns boulders onde você treina, eu recomendo que coloque mãos decentes (viu shimoto?) e as piores, mais lisas e “difíceis-de-usar” agarras de pé que você encontrar. É pra elas serem ruins, mas não a ponto de você largar mão e fazer tudo a montê. Você quer que o foco esteja em usar seus pés adequadamente – que é o primeiro e mais duradouro passo no caminho para ser bom. Como um bônus, nada faz você ficar mais forte do que escalar em agarras de pé ruins.
Domine a “escalada de ladinho”: Uma das manobras mais úteis na escalada é a escalada de ladinho: tradução livre para Back-step. Nesta técnica você pisa com a parte de fora do seu pé direito na agarra e gira seus membros inferiores para que a direita do seu quadril fique junto à parede (e vice-versa). A maioria das pessoas escala de frente pra rocha, ou como diríamos, “de sapinho”, (ou frango assado) com suas mãos e pés como se estivessem subindo uma escada. Se você reparar, os melhores escaladores dificilmente estarão de frente pra parede: um lado ou outro da cintura está sempre girado mais próximo da parede, com a parte externa do pé virada pra parede. Além disso, tente fazer essas pisadas laterais mais rápido. Em vez de colocar o pé esquerdo na agarra, subir e trocar pelo pé direito na posição “back-step”, não perca tempo trocando pés; muitas vezes é melhor já cruzar a perna direita sobre o pé esquerdo e fazer diretamente o “Backstep”.
Fique em pé: Certeza que você já ouviu a dica: “mantenha os braços esticados!” É claro que se seus braços estivessem esticados todo o tempo você não conseguiria dobrá-los para se puxar pra cima. Quando estiver se sustentando nas agarras, na verdade é bom mantê-los esticados. Mas a segunda parte da dica que todo mundo esquece é como começar seu movimento para cima. Tipicamente iniciantes irão começar o movimento com seus braços pagando uma barra e travando no lugar com os pés bem baixos. Em vez disso, tente sempre começar seu movimento para cima com suas pernas! Mantenha os braços esticados e “alavanque-se” para cima fazendo força com seus pés. Eventualmente você terá que dobrar os braços, mas tente fazê-lo só depois que tiver começado o movimento pra cima com as pernas – mesmo que seja só um pouquinho. Ensine seu corpo a fazer isso escalando quartos e quintos graus na academia por exemplo. Pendure-se com os braços esticados e tente levar seu corpo pra cima o máximo que conseguir somente subindo os pés e usando os músculos das pernas para subir e ficar em pé em todas as agarras.
Use sapatilhas melhores: Iniciantes normalmente escolhem sapatilhas folgadas e confortáveis. Mas não importa qual grau você escale, eu recomendo que você tenha um para de sapatilhas boas, das mais profissionais, que sejam justas (Não necessariamente apertadas!). Sapatilhas melhores lhe dão muito mais precisão e trabalham melhor lhe permitindo usar todas as partes do seu pé. Esse é o único e exclusivo equipamento que pode realmente fazer a diferença em sua escalada! Tenha a melhor sapatilha que melhor lhe sirva que você conseguir encontrar.
Desenvolva seu próprio estilo: Algo que normalmente se perde quando os “experts” tentam ensinar os novatos a escalar é que não existe essa tal coisa de “um único e perfeito jeito” de escalar uma via ou problema de boulder. Não existem regras de rapidez ou dificuldade. Para alguns escaladores, a melhor solução para um problema de boulder ou crux de uma via será escalar rápido e dinamicamente – é possível que isso seja muito eficiente para ele/a. Outros podem achar que funciona melhor escalar mais devagar, mais estático e com mais controle. É aqui que a escalada se torna uma arte de auto-expressão. Lembre-se disso. David Graham, por exemplo, em suas clínicas de escalada, gasta um tempão ajudando as pessoas a desenvolver e descobrir seu próprio estilo colocando um grupo de pessoas para descobrir dois ou três betas que funcionem num dado problema de boulder. Tente escalar um problema de duas ou três maneiras. Veja qual é melhor pra você. Não tenha medo de experimentar. Talvez seja melhor mesmo dar um bote! Afinal, o melhor estilo é o que te leva pra cima com mais eficiência.
Evite lesões nos dedos: Você já percebeu que os escaladores tipicamente estouram um tendão dentro de seus primeiros 3 anos de escalada? Iniciantes tem a tendência de correr contra as graduações com rápidos ganhos de força, não técnica, o que cria uma falsa impressão de habilidade que os encoraja a escalar vias cada vez mais duras e regleteiras antes de que seus tendões estejam prontos para elas. Mesmo que já possa ter uma musculatura para tanto, construir e ampliar a resistência dos tendões para aguentar o stress de se pendurar em pequenas agarras demora bastante – as vezes três anos ou mais. Evite lesões nos dedos usando apenas a tal da pega primata – ou pega aberta – na resina sempre que possível. Ah, e também PARE de regletar antes que seus dedos fiquem inflamados. Eu sei: é mais fácil falar do que fazer.
Tenha uma Base: Dani Andrada, um dos melhores escaladores do mundo é conhecido por ter encadenado cinquenta 9c’s antes de sequer considerar entrar em um décimo grau. Mesmo que esses graus sejam meio “elitistas”, a regra ainda se aplica: Tome o tempo que for necessário para dominar os graus mais fáceis antes de seguir em frente. você mandou 50 7c’s antes de mandar um 8a?
Faça da escalada uma prática: Nós tentamos escalar nosso melhor toda vez que chegamos na academia de escalada ou no pico de escalada. Em vez disso, comece a pensar nas suas sessões de escalada como uma prática. Se você escala duas ou 3 vezes por semana, não se preocupe, a força virá. Mas agora, concentre-se em adquirir boa técnica.
Link para a publicação original:
http://www.rockandice.com/lates-news/free-climbing-tips-why-get-stronger-when-you-can-get-better
Tradução livre e versão Brasileira: Rodrigo Genja Chinaglia. Genja escala ha 9 anos, publica semanalmente em seu blog Enquantoissonaomuitolongedali e administra a loja virtual de equipamentos de escalada Quero Escalar. Curte corridas ao por do sol pelo cerrado e piadas sem graça. Adora equipamentos de escalada e tem Transtorno Obsessivo Compulsivo quando vê alguém com a cadeirinha vestida ao contrário ou dando seg errado.
Uaaal
Ótimo artigo 🙂
Eu saquei esse lance da força,
E que é preciso pegar mais técnica(jeito)
Fazer 100 kg no supino é facil ,
foda é fazer a sai do baixo no cuscu
10 mil horas de treinamento é quem divide o bom do genial
“A persistência realiza o impossível.”
Vlws genja
É fi… o tempo não é nada quando existe a vontade…
Abs!
incrível esse artigo!!!! matou a pau !!
Cara, muito bom!!!!
Lendo tudo para ver se eu me torno um escalador menos pior!!!! uhauhauhauha
já sabia de tudo isso , mas a matéria é muito boa , principalmente pra que vive atropelando grau de via e se fudendo todo!!! parabéns !!! BOA!!!!
Reciclei minha mente. Valeu Genja! ❤
Ótimo texto!!! O foco na técnica é vital e mais importante mesmo. Mas essa questão das 10.000 horas é mito e só serve para desestimular a evolução. É uma teoria excludente. Pois então se o sujeito só fizer “9500” horas ele é um fracassado? Além das pessoas serem diferentes, o ser humano é movido a recompensa e não a carga horária. Perceber que está desempenhando melhor hoje do que na semana passada é que move as pessoas a se esforçarem ainda mais. Logo, tornar-se bom nada tem a ver com estoque de horas. Se fosse assim, todos os alunos que saíssem de um curso universitário depois de 3600h teriam performance idêntica, o que nem de longe corresponde a realidade.
Sua abordagem pedagógica é super moderna e concordo plenamente! A motivação é que faz o mundo girar e ainda mais na escalada, onde você é o único responsável pelo seu próprio desempenho! Acho que o ponto é que 10.000 horas com certeza é melhor do que 400. Agora entre 600 e 2000 pode não haver tanta diferença mesmo. Aliás, não importa né, o que importa é a curva de evolução ter inclinação positiva apenas, independente da localização no gráfico de horas x desempenho. 🙂
Olá André,
As 10k horas não são um mito. Apenas a maioria das pessoas que cita isso não sabe a sua origem. As 10k horas vem de um modelo de aquisição de performance proposto por K. A. Ericsson na década de 70. Basicamente ele analisou diversas áreas onde é possível medir a aquisição de performance (em especial xadrez, música e esportes de alta performance/olímpicos) e notou que para competir em nível mundial eram necessárias aproximadamente 10k horas de Prática Deliberada (não é apenas praticar. É praticar buscando fazer coisas que ainda não consegue fazer. Essa é uma das razões de tanta variabilidade em alunos de cursos universitários, além de muitas outras). Ter 9.5k horas de PD não faz de você um fracassado (existe um caso de uma enxadrista que se tornou grande mestre com aproximadamente 9.5k horas), mas quanto menos horas você tem, menor suas chances de ter performance de nível mundial.
Como o objetivo da maioria das pessoas não é competição em nível mundial, não faz nem sentido falar sobre 10k horas. O que faz sentido é ela encontrar o nível de performance que satisfaça os objetivos dela (seja 100h, 500h, 1k ou 10k 😀 ) e buscar atingí-los 🙂
Gostei muito do Artigo, valeu a tradução Genja.
Escalada consciente, melhor fazer tudo tranquilo e chegar no cume bem, do que fazer na agonia e encadenar se estragando todo. Parabens pelo artigo.
Que bosta de artigo, além de escrito no “nóis fumo nóis vortemo”, ainda coloca um monte de pangaré escalando quinto grau e tem a cara de pau de falar em “escalar melhor”, vai se foder… escalador fraco de merda… quero ver uma foto sua no Ostras repetindo essas besteiras de “escalador nao tem que ficar forte”…
Caro Pereba, você tem razão em certo ponto, mas note que o artigo fala sobre escalada, não boulder. Um abraço 😉
Ps- pra quê tanto ódio no seu coração?
Excelente artigo amigo!
massa o artigo, será de grande ajuda.